Relato: O dia mais triste da minha vida.

Lembrou-me como se fosse hoje. Lá estava eu, mais uma vez, sentada naquela saleta do IPE/RN/BRASIL: cabisbaixa, na fase depressiva, chorando baixinho, porque meu esposo estava comigo e me olhava "atravessado" quando ouvia meus soluços. Prescrutava o ambiente, com o pouco de consciência que ainda me restava: não era só eu que estava naquela situação, mas eu não aceitava aquilo. Pensava: "como vim parar aqui, meu Deus!" Quanto mais eu esperava por minha vez, mais eu sofria  me retraía e haja esperar...

Recordo, vagamente, que algumas pessoas comentavam sobre a perita em serviço, naquele dia: chata, irritante, mal-educada, um "porre!"  Comecei a tremer involuntariamente, meu marido olhava para mim e me reprendia silenciosamente, penetrando seus olhos azuis nos meus castanhos escuros...Sempre que tinha que voltar à perícia, sentia-me muito vulnerável, insegura, infeliz.

Infelizmente, "o tempo não para" e chegou a minha vez. entrei na sala. Espanto: ao invés de uma perita , eram  duas. Não entendi mais nada. Apenas uma coisa me consolava, sabia que eram psiquiatras, porque os casos de psiquiatria eram agendados para dias determinados. Aqui vale um parêntese positivo: isso não ocorre na pericia  do INSS: lá, os peritos não são específicos aos casos psiquiátricos.

NOTA: bateu o sono, volto depois.

VOLTEI: dormi, tomei um banho revigorante bem frio e aqui estou.

Quanto a questão da Perícia do INSS. Tenho autoridade de falar sobre isso, porque como meus colegas leitores já sabem , tenho dois vínculos empregatícios: a esfera pública (o estado, como professora de português, nível superior, Curso de Letras, Licenciatura Plena Português e Literaturas Brasileira e |Portuguesa) e a esfera Mista, isto é, particular e pública ( CAERN/RN/BRASIL, como técnica em engenharia, formação Curso de Saneamento pela ETFRN, atual IFRN), Volto à questão do INSS noutra oportunidade.

Bem, como já disse, ao invés de uma médica perita havia duas. Sentei, entreguei os documentos pessoais necessários e os documentos médicos; receitas, parecer médico e atestado médico. Fiquei calada só aguardando. vale salientar que as duas praticamente nem me cumprimentaram. Fiquei em silêncio (na fase depressiva, eu não falo, não me alimento bem, não saio de casa, a não ser para o médico e outras "coisitas" mais...).

De repente, as duas começaram a trocar ideias, como se eu não estivesse presente, tipo: "é,  hoje, só pegamos caso desse tipo, o que você acha, não tem outro jeito, temos que aposentar, é já está de licença contínua há dois anos e dois meses, conforme nossa legislação, se não voltar à ativa, imediatamente, tem que sair de sala de aula".

Súbito, era como se lembrassem que eu existia e que estava parada na frente delas. Disseram; "a senhora tem que voltar a lecionar ou vai ter que se afastar, definitivamente, da sala de aula". Eu estava tão "lerda", que só fazia olhar para elas e ficar calada, queria conversar, mas as palavras não saiam. " Desabei a chorar, quanto mais elas me faziam perguntas, mas eu chorava, pois não conseguia articular as palavras e a única coisa que gravei foi: sair definitivamente da sala de aula, que horror! Como não conseguiam "arrancar" uma palavra sequer de mim, tiveram que solicitar a  presença do meu acompanhante, ou seja, meu esposo. Geralmente, a perícia não permite acompanhante durante a entrevista, o que no caso psiquiátrico, considero erradíssimo, porque nem sempre o paciente tem condições de responder as questões.

Quando vi meu marido, chorei ainda mais. Ele olhava para mim e não entendia nada. As peritas então, passaram a conversar com ele e eu só prestando atenção, porém não conseguia reter as lágrimas. Só voltei a falar quando elas disseram: "se ela não tem condições de voltar à ativa, não tem outro jeito, temos que providenciar a documentação para a aposentadoria, porque já faz dois anos e dois meses de licenças contínuas e, automaticamente, temos que aposentá-la, conforme reza nossos estatutos.

Nesse ponto, lembro que olhei para todos e chorando ainda mais disse: "não, não quero!. Amor, elas querem me aposentar, não estudei tanto para terminar assim; aposentada por invalidez..." E pegue mais choro.

A perita, a qual as pessoas da sala de espera tinham dito que era mal-educada foi "grossa mesmo". Olhou para mim e disse: "tá chorando por que, devia ficar feliz, vai ficar recebendo dinheiro sem fazer nada.

Nesse ponto, olhei para ela, parei de chorar e comecei a fazer uma retrospectiva da minha vida, desde criança. Pensava: meu Deus! Estão destruindo o meu maior e maravilhoso sonho: ensinar. A única coisa do mundo que me faz feliz é ensinar. E comecei a lembrar das minhas bonequinhas, todas sentadinhas nas cadeirinhas de madeira, que a minha mãe comprava na feira de Canguaretama, minha terra Natal e que eu, passava a manhã inteirinha "dando aulas para elas". Lembro que esquecia de comer, minha mãe tinha que me chamar todos os dias e me fazer comer, senão eu esquecia do mundo e até mesmo, de ir para a aula, que começava às 11h30min, já que a minha escola tinha quatro turnos, devido a escassez de prédios escolares.

Conclusão: estou aposentada da esfera estadual a quase três anos.

Benefícios: estudo mais hoje, do que quando estava na ativa, pois não tinha muito tempo, já que tenho dois empregos e hoje, sempre que posso, ajudo alguém com alguma atividade, Lógico: não cobro, apenas amo o  que faço.

Tenham um dia maravilhoso!




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