Sim, caro Leitor, fui Cantada por Alunos

Hoje, fechando o ciclo do assunto sobre Cantadas, vou responder a pergunta de um dos meus leitores: DaLuz, já fostes CANTADA por alunos? Sim, mesmo sendo feia, BR 101 (sabe reta do norte ao sul do país), magérrima e deixa para lá... Foi assim: Início de ano letivo é um verdadeiro pesadelo para qualquer professor; dar aquele "friozinho na barriga", por mais seguro que o ele seja, porque nunca sabemos que tipo de clientela teremos, realmente. Principalmente, no meu caso e diversos outros colegas de profissão que trabalham na periferia (nada contra o local, para mim nunca fez diferença, mas a situação do professor fica um pouco mais "delicada", vulnerável). Sou sincera, eu ficava tão tensa, mesmo tendo todo o Planejamento Anual, Semestral, Bimestral e Planos de Aula para, no mínimo 15 dias prontos que meu coração acelerava; como tenho problemas de pressão, daí vocês podem imaginar a tortura. Num determinado ano, estava em sala de aula, aguardando meus alunos, já que nossa escola adotava o método chamado Sala Ambiente, isto é; cada professor tinha a sua sala e eram, os alunos que se deslocavam a cada término de horário; eu amava esse método, pois dava uma autoridade maior ao professor. Explico: no meu caso, eu aproveitava para dar Aulas de Etiqueta, ou seja; ficava à porta e recebia um a um, pois sempre chegava 15 minutos antes do início das aulas, com o objetivo de abrir a minha sala e poder usufruir de uma conversa mais informal, de um relacionamento mais estreito com meus pupilos: era como "brincar de bonecos", minha brincadeira predileta, da minha infância. Mas vamos lá: Nesse ano, quando já estava tendo o primeiro contato com os pupilos, estava iniciando as apresentações de praxe, ouço uma voz pedindo licença. Olho para a porta e me deparo com um rapaz belíssimo:alto, magro dentro dos limites para sua altura, moreno claro, cabelos bem cortados, cuidados e lisos, e o pior, olhos verdes - porte de príncipe. Confesso: foi o aluno mais belo que conheci durante todos os meus anos de professora! Isso, sem falar do tom da voz: perfeito! Na mesma hora pensei: "esse vai me causar problemas!" Ele entrou, sentou-se na segunda fileira, numa cadeira mais ou menos no centro. Continue a dar as primeiras informações necessárias. Ele discretamente, acompanhava minhas mudanças de foco à medida em que eu abrangia o ambiente da sala, sempre fixando seu olhar direto no meu. Pensei: "não disse, ele quer me encabular, desconcentrar". Rapidamente, recorri às minhas técnicas de controle do nervosismo frete às plateias novas, as quais aprendi lendo textos tipos:"Como vencer a Timidez, Como falar em Público, etc.". Inverti a situação: fixei o olhar direto e profundamente nos olhos dele, então pensei:"agora quero ver quanto tempo você vai me aguentar..." Não é que o rapaz sustentou o olhar por um tempo que me pareceu infinito. Era um verdadeiro conquistador: obstinado! Nessa primeira batalha: empatamos. Ele revelou-se, no decorrer do tempo, um aluno exemplar, dedicado, esforçado. Chegava geralmente, antes dos outros, entrava, sentava defronte para minha mesa e conversávamos como "velhos amigos". Pensem, num homem educado! Era separado, tinha um filho que me apresentou e que por motivos de ordem maior, de vez em quando precisava levá-lo para sala de aula, tinha sido menino de rua a partir dos seus nove aninhos, passara muitas dificuldades, muito frio e fome; uma "infância de cão", mas vencera: só não sobrara tempo para estudar direito, por isso agora estava cursando o segundo Ciclo do Fundamental.Como morava num bairro depois do meu, insistia em me oferecer carona; eu não aceitava. Entretanto, por questão de educação, vez ou outra passei a aceitar se e somente se houvessem outros caronistas. E finalmente, um certo dia, a Cantada aconteceu: nesse dia, ao sair de casa, por estar de baixo astral, resolvi por um dos meus conjuntinhos - saia justa e casaquinho, tipo blazer -, cor vinho, cuja saia marcava bem minhas nádegas, sapato alto, bico fino e uma das minhas famosas bolsas 007 (meus únicos mimos).Cheguei bem mais cedo. Caminhava tranquilamente pelo corredor quando ouvi uma voz suave, bela, delicada, rouca e profunda às minhas costas: "que belo rebolado, continue andando, tomara que esse corredor não se acabe nunca..." Não precisei me virar: sua voz era inconfundível,principalmente carregada de sedução. Tiveram outras investidas, todavia essa, é inesquecível! E pior, no momento e dia certos. Nada melhor do que uma Boa Cantada para elevar o ânimo de qualquer pessoa. Não Acham?

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