A QUEM E A QUE EU DEVO A MINHA DEPRESSÃO. PARTE I - DEPOIMENTO
Vou
“abrir o verbo”. Faz parte do meu caminho de volta para uma vida “normal”:
Iniciar um retrocesso, fazer uma retrospectiva dos acontecimentos que
anteciparam minha primeira crise e principalmente, conscientizar-me que ainda,
preciso de assistência psicológica (isso se eu conseguir marcar consulta com a
minha psicóloga...).
Lembro-me
que estava, sossegada, no meu ambiente maravilhoso de trabalho, quando fui
“convidada” a fazer parte de uma nova equipe de trabalho, no Setor de Esgotos
da Empresa/CAERN. Na época, considerei a proposta ótima! Afinal, já fazia treze anos e meio que eu prestava serviço à Central do Cidadão da Zona Norte e estava ávida, por uma experiência
nova. Entretanto, nova em parte, pois foi no setor de fiscalização de obras de
esgotos, que iniciei minha carreira como técnica de saneamento, na CAERN. Na
verdade, adorei a ideia, pois já me sentia uma “prisioneira” no guichê de
atendimento da Central do Cidadão da Zona Norte. O que me salvava, na época, de não
me sentir totalmente “presa”, era o fato de lecionar Língua Portuguesa, à
noite, na Escola Estadual Profa-. Judith Bezerra de Melo, na qual trabalhei até
o dia que adoeci (21 anos, na mesma escola).
Criei
uma expectativa muito grande para a próxima atividade. Pensava: vou fazer novas
amizades; poder falar com a população “in loco”; continuar minha Pós-graduação
em Língua Portuguesa, pela qual estudei muito para “entrar” no Instituto
Kennedy”, meu sonho há muitos anos; e principalmente, poder respirar um novo
ar, pois amo “trabalho em campo”. Todavia, quando me apresentei no novo setor,
tive minha primeira decepção: o ambiente físico era péssimo; uma sala pequena e
isolada do restante do prédio principal,
uma mobília do “tempo do ronca”, sem janelas. Ainda bem que tinha
arcondicionado funcionando. Para piorar, havia uma fossa quase defronte à sala
e pasmem; vez ou outra o esgoto da fossa escorria pelo pátio, ou seja, fui
mandada, literalmente, para a merda. Não entendia como s outros componentes da
equipe, os quais já estavam há muito tempo no setor não exigiam melhores
instalações. Resumindo: o local era horrível! Lógico, que estou comparando com
as instalações da CCZN (Central do Cidadão Zona Norte), que funciona ainda, no
Shopping Estação.
Minha
outra decepção foi com um determinado membro da equipe, que quando soube que eu
estava cursando uma pós-graduação foi categórico: “pode esquecer seu curso,
aqui ninguém dá chance para nada”. Bem, na hora não dei a mínima, mas no
decorrer dos dias, tornou-se cada vez mais difícil conciliar a “pós” com o novo
horário (antes trabalhava horário corrido, das 9 às 15 horas e agora,
trabalhava oito horas, com duas de repouso, porém eu ainda lecionava três vezes
por semana, à noite. Ou seja, não tinha mais espaço para preparar minhas aulas
e nem horário certo de chegar em casa, porque, às vezes, era preciso viajar e
infelizmente, as viagens não seguiam um cronograma e pior, ao invés de sairmos
cedo, sempre saíamos muito tarde, de forma que restava pouco tempo para
desenvolvermos o trabalho de campo, então essa desorganização, começou a influenciar no meu outro trabalho,
o qual eu considerava tão importante quanto o da CAERN), fui, totalmente, prejudicada.
Enfim, deixei a pós-graduação.
Posso
afirmar sem medo de errar que a nova atividade, já não me entusiasmava mais: comecei
a não sentir “gosto”, prazer de ir trabalhar. Só de pensar em ir para a
Empresa, meu coração disparava e o que me dava prazer antes, agora me
apavorava, então comecei a perceber que tinha algo de errado acontecendo
comigo, mas até essa descoberta não desconfiei que estava entrando numa crise
depressiva, até porque não sabia, absolutamente nada a respeito dos sintomas
iniciais de um quadro depressivo.
A
evolução do processo depressivo foi tão rápido, que quase não percebi sua
influência negativa no meu outro trabalho, que, aliás, eu considerava meu “lazer”,
porque ENSINAR era tudo para mim: nasci para ser professora, quando entro numa
sala de aula, sinto-me no céu! Isso não quer dizer que não gosto de exercer a
função de técnica em engenharia, pelo contrário, identifico-me com o lado
social da minha formação técnica e “amo” lidar com o público, tanto interno
quanto externo. Mas, infelizmente, veio a primeira crise e foi necessário me
licenciar de ambas as atividades. Foi horrível, pois súbito era “um nada” e
pior, totalmente desorientada, incapaz de cuidar de mim mesma: totalmente
dependente de outras pessoas, até para executar minhas atividades íntimas; como
por exemplo: tomar banho.
No
decorrer desse processo depressivo vi, ouvi e senti coisas que não percebia
antes: primeiro, descobri que amo muito meu esposo, quando o vi “chorar,”
silenciosamente; segundo, descobri quais são meus verdadeiros amigos; terceiro,
passei a ouvir mais e falar menos; quarto, eu ratifiquei a maravilhosa família
que tenho, todos estavam “sofrendo” comigo; e por último, todavia de maior
importância, senti a presença do meu Deus a cada momento e foi Nele, que tive
forças para continuar lutando, dia após dia para vencer essa difícil batalha: a
depressão!
Hoje,
tenho um longo caminho pela frente. Acordo todos os dias apreensiva, contudo
entregue nas mãos de Deus, porque nunca sei em que fase da Depressão Bipolar
vou está: eufórica ou depressiva. Só tenho certeza de uma coisa: nunca sei quando estou normal e se ficarei
um dia. Entretanto, isso é o de menos, o que importa mesmo é que estou
vivendo intensamente, o que não acontecia antes: agora eu posso estar com minha
família, cuidar dos meus filhos e principalmente, do meu esposo. E o melhor: na
fase eufórica, eu consigo “raciocinar tão rápido que crio projetos num “estalar
de dedos”, então, não tenho do que reclamar. Sei que jamais serei a mesma
pessoa que era antes, mas vou tentar melhorar a pessoa que sou hoje e, tenho
certeza, que serei melhor do que era.
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