Relato: professor, aproxime-se dos seus alunos.

Hoje, tive a oportunidade de falar um pouco sobre a minha experiência em sala de aula, com meus colegas de trabalho. Vale salientar que leciono desde os meus quinze anos de idade e agora, já tenho 53 anos de vida, ou seja, 38 anos de experiência em sala de aula.

Relatei para eles um fato que ocorreu há alguns anos, quando eu estava lecionando. Foi o seguinte: logo no início de uma determinada aula, quando comecei a explicar o assunto, observei que uma das minhas alunas, estava muito cabisbaixa, triste mesmo, tanto que dava para perceber lágrimas, que teimavam em não caírem dos seus olhos, mas ao olharmos mais atentamente, era como se elas estivessem molhando todo o seu jovem rosto; era apenas uma adolescente, na faixa dos seus 16 aninhos. Senti que tinha que conversar com ela, pois sempre mantive uma aproximação muito estreita com meus alunos e, tive certeza que algo de muito grave estava ocorrendo com aquela jovem.

Coloquei o exercício no quadro, pedi licença aos outros alunos e convidei-a para sairmos da sala de aula. Sentamos num dos bancos do pátio e fui direta: _ o que está acontecendo com você, hoje, você não é tão triste assim. Ela começou a chorar e entre soluços, disse-me: _ professora, não sei como cheguei aqui, minha vontade era ter me jogado debaixo de um carro..._ por que? Perguntei. _ Professora, minha mãe é alcoólatra, ela bate em mim, já tentou se matar diversas vezes e eu faço tudo por ela, mas não aguento mais...nem estudar direito eu posso, pois ela me telefona dizendo que vai se suicidar, se eu não for para casa, daí tenho que sair correndo...Um dia cheguei em casa, ela tinha ligado o fogão, posto os cabelos na labareda, se eu não tivesse chegado bem rápido, com certeza, ela teria se queimado todinha...

Desabou a chorar bem mais. Esperei ela se acalmar e então falei: _ eu sei o que você está sentindo, é horrível! Mas pense: se você se matar, quem vai cuidar da sua mãe, é maravilhosa a função que você recebeu: cuidar da pessoa que é mais importante para a sua vida. - É fácil falar, professora, mas você não sabe o quanto é difícil. Então respondi: _ sei, querida, minha mãe é alcoólatra, também e, não tem sido fácil conviver com isso, porém, não dar para abandoná-la, nossa obrigação como filhas é ajudá-las, pois elas  sofrem mais do que a gente, pode acreditar, já chorei muitas vezes sozinha e abraçada a ela...

Ela ficou tão admirada, porque achava que uma professora, jamais teria uma mãe alcoólatra e, principalmente, expor uma situação dessa, tão delicada para uma aluna. Senti o quanto ela me admirou, naquele momento. Deixei ela  à vontade para decidir se iria voltar à aula ou se queria ir embora. Retornei a sala de aula.

Minutos depois, ela voltou à sala de aula e graças a Deus, está viva até hoje.

O que aprendi: olhe para seus alunos, preste atenção ao comportamento deles, trate-os com carinho, troque experiências com eles. Tenham certeza, eles precisam de nós.

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