O Conto - A Criação Literária - Massaud Moisés.


CURSO: LETRAS
DISCIPLINA: TEORIA DA LITERATURA III








3ª- AVALIAÇÃO DE TEORIA DA LITERATURA III
TEXTO: O CONTO:
BIBLIOGRAFIA: A CRIAÇÃO LITERÁRIA- MASSAUD MOISÉS




ALUNA: Maria da Luz de Lima Santos







NATAL, DEZEMBRO/86
SUMÁRIO
1.       INTRODUÇÃO
2.       A LINGUAGEM NO CONTO
2.1. COMPONENTES D LINGUAGEM NO CONTO
2.1.1.        TIPOS DE DIÁLOGO
2.1.2.        A NARRAÇÃO
2.1.3.        A DESCRIÇÃO
2.1.4.        A DISSERTAÇÃO
3.       TRAMA NO CONTO
4.       PONTO DE VISTANO CONTO OU ÂNGULO VISUAL OU FOCO DE NARRAÇÃO
4.1. QUATRO FOCOS DE NARRAÇÃO ESTABELECIDOS POR CLEANTH BROOKS E ROBERT PEN WAURIN
4.1.1.        CARACTERÍSTICAS DOS FOCOS
4.1.2.        DESVANTAGENS NO PRIMEIRO FOCO NARRATIVO
4.1.3.        VANTAGENS NOS QUATROFOCOSNARRATIVOS.
5.       CONCLUSÃO















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1.       INTRODUÇÃO
A origem da palavra conto, segundo o pensamento literário, estaria em commemtu – (latim), com o significado de ”invenção”, “ficção”. Já na Idade Média, a palavra conto era considerada como derivada do verbo contar, significando “enumerar” e “relatar” – simples enumeração de fatos dentro duma narrativa.
No séc. XVI, surge o primeiro contista em língua portuguesa: Gonçalo Fernandes Trancoso, e a partir daí, a palavra conto ganha seu sentido específico, por causa do fantástico existente em suas estórias.
No início do séc. XIX, o conto conhece sua época de glória: torna-se forma nobre (ao lado da poesia), saí do seu estágio empírico, indeciso para fazer parte de produto tipicamente literário, ganha estrutura e andamento característicos, compatível com sua essência e seu desenvolvimento histórico, e transforma-se em ponto importante para os ficcionistas famosos.



















2.       A linguagem no conto
Deve ser objetiva, prática e utilizar metáforas de curto espectro, de imediata compreensão para o leitor; despe-se de abstração e de toda preocupação pelo rendilhado ou pelos esoterismos.
2.1. Componentes da linguagem no conto
2.1.1.        Diálogo – o mais importante componente do conto – constitui a base expressiva do conto.
2.1.1.1.  Tipos: - Diálogo direto ou discurso direto – as personagens falam diretamente no conto, e a fala é representada por um travessão ou aspas. Predomina no conto.
            - Diálogo indireto ou discurso indireto – a fala dos personagens é resumida em forma narrativa, isto é, não destacada no decorrer do conto. Aparece no diálogo secundário.
            - Diálogo (ou monólogo) interior – é aquele que se passa dentro, no mundo  psíquico da personagem; esta fala consigo mesma, antes de se dirigir a outrem, devido as palavras conterem “vários níveis de consciência antes, que sejam formuladas pela fala deliberada”.
2.1.2. Narração – aparece no conto em reduzida quantidade, proporcionalmente ao diálogo. Utilizada quando da necessidade de sintetizar fatos intermediários ou acessórios que, no plano da fabricação, não importa revelar sob pena de desequilibrar o conto.
2.1.3. Descrição – é valorizada de acordo/dependendo do tipo de história narrada. Os contos realistas detinham-se mais no retrato de personagens e paisagens, pois acreditavam na interação desses elementos na arquitetura do conto. As personagens, no conto se diferenciam antes pelo contorno dramático ou psicológico, enquadrado numa situação única, irrepetível, que por sua fisionomia ou vestimenta. Não raro, o contista abstrai a paisagem e os aspectos internos dos figurantes, certo de sua desnecessidade: o drama mora nas pessoas, não nas coisa nem na roupagem; estas, quando muito refletem-no.
2.1.4. Dissertação – está ausente no conto, pois sua presença correria o risco de transformá-lo em divagação adiposa e inútil.

3.       Trama no Conto – é sempre linear, objetiva. O conto, ao começar, já está próximo do epílogo, de forma que apenas conhecemos os momentos anteriores ao clímax dramático. A precipitação domina o conto desde da primeira linha: a trama se organiza segundo  um andamento semelhante ao ritmo e os personagens vão-se acumulando numa ordem “lógica” de fácil percepção. A grande  “cartada”, consiste no jogo narrativo  para prender o interesse do leitor até o desenlace, que é, regra geral, um enigma. Existem casos em que o enigma não existe  ou vem diluído ao longo do conto, observa-se sobretudo  na literatura moderna.
4.       Ponto de vista no conto ou ângulo visual ou foco de narração – em que se coloca o escritor constitui um elemento de especial importância, na estrutura duma narrativa (conto, novela ou romance).
4.1. Quatro focos de narração estabelecidos por Cleanth  Brooks e Robert Pen Wamin – “ Quem ver a história ou que conta a história”
1.       A personagem principal conta sua história.
2.       Uma personagem secundária conta a história da personagem central.
3.       O escritor, analítico ou onisciente, conta a história.
4.       O escritor conta a história como observador.
4.1.1.        Características dos focos
- Os focos 1º- e 4º- implicam na análise interna dos acontecimentos.
- Os focos 2º- e 3º- dizem respeito à sua observação interna.
- Nos focos 1º- e 20-, o narrador funciona como personagem da história.
- Nos focos 3º- e 4º-, o narrador se coloca fora dos acontecimentos, como observador, ou tem livre acesso a todos eles com igual facilidade.
- O conto é bom, quando existe adequação íntima, necessária, entre o foco escolhido e a história que tem a contar, e o conto é ruim, quando falta adequação íntima, necessária.
4.1.2. Desvantagem no 1º- foco narrativo – No 1o-primeiro -  foco , o personagem principal  conta a história – o narrador emprega  a 1ª- pessoa do singular. Esse fato limita um tanto a área da narrativa, que fica circunscrita, exclusivamente, ao narrador, pois é de sua história que se trata: a própria personagem interessada na história – visto ser o protagonista central – nem sempre é a mais indicada para conta-la, pois somente a interpretará de seu ângulo pessoal, o que implica numa visão muito reduzida das coisas. Esse individualismo pode comprometer a verossimilhança da história, pois o narrador tende a oferecer-nos de si uma imagem sempre otimista e dos outros, sempre negativa. Para que tal redução não aconteça, torna-se preciso que o narrador funcione como uma espécie de ALTER-EGO do contista, ao menos na medida em que também, interessa-se por ver o mundo como veem as outras criaturas com as quais entra em choque. Por isso, parece evidente que a escolha do foco narrativo  e, até certo ponto, ARBITRÁRIA.
4.1.3. Vantagens nos quatro focos narrativos.
- A história parece ganhar, aos olhos do leitor, maior verossimilhança visto a narrativa prescindir de intermediário: a personagem que “viveu a história” conta-a diretamente ao leitor, de sorte a anular a distancia entre ambos e dar a este a impressão de ser exclusivo confidente do caso. O impacto resultante, porque direto e psicologicamente sútil, confere verdade e objetividade à narrativa, em resultado precisamente de ser o herói quem a transmite. Além disso, o emprego da 1ª- pessoa pode conferir unidade à narrativa, graças à concentração de efeitos, e ao caráter de plausibilidade que lhe é inerente. Um dos requisitos essenciais, para que o conto se realize em toda a sua extensão – que pode ser chamado presentividade – concretiza-se igualmente no uso da 1ª- pessoa. O leitor tem a impressão de que está sendo participante de ocorrências quase contemporâneas à leitura, como se a realidade viva lhe fosse revelada em pleno processo dinâmico. Ocorre, portanto, o desenvolvimento de um traço imanente ao caráter do conto desde suas primitivas formas – ou de primitividade.
- Esse ar de primitividade ausenta-se nos três outros focos narrativos. Mesmo o segundo, que pode valer-se do emprego da 1ª- pessoa, perde-o: como se trata de uma personagem secundária que nos conta a história da principal, a distância entre o leitor e o conteúdo da narrativa aumenta, pois as coisas se passam com uma terceira personagem. O processo implica em “objetividade” na fabulação, pois quem conta foi ou é apenas testemunha dos acontecimentos.
- No terceiro tipo, o escritor torna-se, verdadeiramente, o demiurgo (guia): acompanha  as personagens a todos os lugares, entra-lhe na mais recôndita intimidade, como um agudíssimo olho secreto devassa-lhe o mundo psicológico, esquadrilha lhe os abismos inconscientes e subconscientes, conhece-lhe, enfim, as mínimas palpitações. Todavia, as proporções físicas do conto e especialmente, suas características intrínsecas impedem que a sondagem no interior dos protagonistas mergulhe além das primeiras camadas. Ex. conto de Machado de Assis – “A Cartomante”. Conto na 3ª- pessoa, em que o narrador corresponde ao escritor – onisciente, ainda assim, o ficcionista tempera a impessoalidade do relato com breves intromissões que, em vez de roubar veracidade, atribuem vida e presentividade ao conto: o emprego do diálogo, direto, utilizando as formas verbais do presente, constitui outro componente positivo.
- Assim, com fazer-se observador, o contista supera aquele óbice/impedimento, criando outro, pois o narrador vê-se compelido a restringir-se às suas características “humanas”, a fim de observar e contar apenas o que observou. Ex. Carlos Drumond de Andrade.

5. CONCLUSÃO.
“O conto desconhece alçapões subterrâneos, ou passagens com segundas intenções.”
Devido o conto ser limitado, geralmente, o contista é obrigado a decidir-se por um foco narrativo. “No conto moderno, porém, vêm-se experimentado vários agrupamentos de enfoque narrativo, a fim de remediar àquelas desvantagens apontadas e conferir vida à fabulação, tudo no encalço de permitir que ele “fale por si, que se escreva sozinho”, ou reflita o Cosmorama social de todos os pontos de vista: fazer desaparecer o autor do conto para que nele se expressem todos quantos tinham intervindo no caso.”
O conto, portanto, é uma arte viva, pois reflete o cotidiano, os acontecimentos que marcam uma sociedade, registrando-os de forma sucinta e clara.

SUGESTÕES DE LEITURA:
1.       O Foco Narrativo (ou a polêmica em torno da ilusão) – Lígia Chiappini e Moraes Leite – série princípios, editora Ática.
2.       Teoria do conto – Nádia Battella Gotlib – série princípios, editora Ática.
3.       Os Melhores Contos de Machado de Assis  - Seleção de Domício Proença Filho – Global Editora, 1985.


                

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