Dever e Felicidade.

Amado Leitor, esse texto é bem filosófico, então leia e reflita. Boa leitura!

“...tem lugar marcado entre as questões tradicionais que os filósofos passam de mão em mão. Muito chama-se então, em têrmos abstratos, o problema da relação entre dever e felicidade (grifo da blogueira) Quando se separa dever e felicidade, introduz-se uma contradição íntima na natureza do homem que não consegue calar nem a voz que lhe ordena o dever nem a que lhe impõe a busca da felicidade. Mas, se forem perfeitamente harmonizados, onde ficará um dever que se mostra apenas como meio de obter uma felicidade?
Uma das mais vigorosas soluções dêste problema clássico, foi apresentado por Kant. Para agir moralmente, diz êle, é preciso obedecer à lei por respeito pela lei, sem que qualquer outro motivo venha empanar a pureza dessa intenção. Existe, aliás, um reino das finalidades onde Deus fará enfim coincidir virtude e felicidade; porém para dêle ser digno dêsse reino seria necessário renunciar a êle, eliminá-lo do plano das previsões e preocupações. Neste sistema, sem dúvida, o laço entre a felicidade possuída e o dever cumprido é extrínseco. O agnosticismo metafísico de Kant não lhe permitia conceber outro. Pelo menos, compreendeu a necessidade invitável do conflito que opõe a pureza de intenção exigida pelo dever ao desejo ainda egoísta de felicidade, e viu ser vão tentar vencer o conflito ajustando artificialmente elementos antagônicos. O acordo sòmente se fará para além da aceitação do dever como tal, e o homem não pode exigir que lhe mostrem, antes de afligir, que nada tem a perder ou que estará fazendo um bom negócio. Há várias críticas a fazer à moral Kantiana. Mas pelo que se disse acima bem se vê como são desarrazoadas as indignações pouco inteligentes contra a inumanidade desta moral. De modo particular dá mostras de haver refletido muito pouco sôbre as condições de fé quem, por êsse motivo, opõe a moral cristã à de Kant. No plano moral, Kant não fez mais do que afirmar, seguindo um esquema abstrato – porque a filosofia não pode mais que isto – (grifo da blogueira) que a morte é necessária e que, se depois da morte, tudo pode ser puro, para aquelê que a recusa tudo é inevitàvelmente impuro.”


Nota: Texto transcrito conforme ortografia da época (1957) – Coleção “O Evangelho no Século XX”,  Yves de Montcheuil, As Exigências do Reino de Deus, Liv. Duas Cidades, pgs. 110 e 111.

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